"O ser humano não é somente um ser da natureza regido unicamente pelo instinto: tendo fome, lança-se sobre uma porção de comida. Ele é, principalmente, um ser de cultura, que o leva a moderar o instinto e a ritualizar o ato de comer, geralmente à mesa, junto com outras pessoas. A passagem do animal ao humano se deu exatamente quando nossos antepassados antropóides começaram a comer juntos com o seu grupo de convivência. Daí nasceu a comensalidade. Ela significa comer e beber juntos, expressão singular de nossa verdadeira humanidade".
Leonardo Boff Virtudes para um Outro Mundo Possível, volume III

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É com grande alegria que registramos a 500ª visita ao nosso blog!

Entendemos que a nossa proposta de conciliar, da melhor forma possível, gastronomia – sabore arte – em suas várias nuances – tem sido bem acolhida e que várias pessoas comungam com o nosso pensamento de “não querermos só comida, mas, sim, comida, diversão e arte”!
Agradecemos, portanto, pela sua visita e nos esforçaremos para continuar postando sobre assuntos que inspirem bons sentimentos e boas atitudes, para conosco e para com aqueles que nos cercam!
Aproveitamos este momento - primeira postagem de 2010 - para iniciar a colocação de comentários sobre filmes que, de alguma maneira, se harmonizam com a nossa visão de mundo. Pretendemos comentar sobre um filme por semana, a princípio às sextas-feiras, véspera do dia preferido de visitas às locadoras!

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Reign Over Me – Reine Sobre Mim


Apesar do título soar estranho em um primeiro momento, Reine Sobre Mim pode ser considerado um dos filmes mais brilhantes da última década. Produzido em 2007, destaca-se por vários aspectos. Os principais personagens, Alan e Charlie, interpretados por Don Cheadle (excelente atuação em Hotel Ruanda) e Adam Sandler (famoso por suas atuações em diversas comédias), foram colegas durante a faculdade e, o que não é raro, reencontram-se vários anos após terem se formado e perdido o contato. Alan mantém uma vida “normal”, incomodada pelos habituais problemas relacionados ao ambiente de trabalho e à rotina no casamento... Charlie, por sua vez, possui aparência desgrenhada e um comportamento “estranho”... motivado pela tragédia que aconteceu à sua família (esposa, duas filhas e uma cadela poodle), que estava em um dos aviões destruídos no atentado de 11 de setembro. A partir dessa tragédia, Charlie reage da “forma dele” à perda de sentido em sua vida e, passado um determinado período, o seu modo de agir passa a ser motivo de preocupação das pessoas mais próximas, que não conseguem se habituar à sua conduta e tentam “ajudá-lo”, mas todas as tentativas de aproximação são fortemente repelidas... Como Charlie não via Alan desde a época da faculdade e este, por tal distanciamento, não conhecera sua família nem quaisquer aspectos a ela relacionados, Charlie aceita a sua aproximação... Nesse contexto, dentre os vários temas que inspiram a reflexão, alguns se destacam.
O poder terapêutico da “simples” e verdadeira amizade.
A grande dificuldade que possuímos de nos colocarmos – verdadeiramente – no lugar do outro ao invés de pré-julgarmos profundamente as pessoas através de atitudes superficiais.
O grande mal proporcionado às pessoas que mais amamos pela enorme dificuldade de nos comunicarmos.
O quanto nos esquecemos de que ao nos permitirmos agir como crianças e rirmos de nossas imperfeições fazemos muito bem à nossa alma.
Que cada um reage de forma particular frente a uma grande perda e que esta forma, se diferente da que supomos que agiríamos, não é pior nem melhor, apenas diferente.
A dificuldade de reconhecer o que para o outro é uma “grande perda” se para nós a “tal perda” seria apenas uma “bobagem”.
Que diante de uma pessoa que supomos precisar de ajuda e supomos estar aptos a "ajudar", muitas vezes nos surpreendemos e somos tão ou mais ajudados pela pessoa que se mostrava tão fragilizada.
Que a perda nos torna susceptíveis a um profundo encontro com nossas maiores dores, sobretudo com a culpa e o remorso, e que estas podem ser insuportáveis ao ponto de motivarem a vontade de interrupção desta existência...
Além das características já abordadas, o roteiro, a fotografia e a trilha sonora conseguem transmitir com grande fidelidade a atmosfera nova iorquina “pós 11 de setembro”. Contudo, o que torna Reine Sobre Mim tão apreciado talvez seja o fato de que se pode, guardadas as devidas proporções, estabelecer um paralelo entre as sensações vivenciadas pelo personagem Charlie e sensações que muitos de nós vivenciamos quando perdemos alguém muito querido, independentemente desta perda ter sido motivada por causas "menos complexas" que um ataque terrorista, tais como acidentes de trânsito motivados por embriaguez; é possível, desse modo, que muitos de nós nos identifiquemos por termos acompanhado reações de pessoas próximas, que, assim como Charlie, vivenciaram (ou vivenciam) o estado de estresse pós-traumático. Reine Sobre Mim, entretanto, é um filme que, apesar da forte densidade, não se limita exclusivamente à perspectiva do drama; ao se emocionar constantemente, o espectador tende a variar entre o choro e a gargalhada, entre a possível (des)ilusão com a (des)humanidade e a (re)afirmação da esperança através das “corriqueiras e nada extraordinárias” ações de nossos (verdadeiros) amigos...
Se ainda não assistiu, assista e deixe o seu comentário!

Acesse o trailer e a música-tema do filme – Love Reign Over Me, composta por The Who e interpretada por Pearl Jam para a sua trilha sonora, cuja letra (e tradução) encontra-se logo abaixo!



Only love Apenas o amor
Can make it rain Pode fazer chover
The way the beach is kissed by the sea Do modo que a praia é beijada pelo mar
Only love Apenas o amor
Can make it rain Pode fazer chover
Like the sweat of lovers Como a transpiração dos amantes
Laying in the fields. Repousando nos campos.
Love, Reign o'er me Amor, reine sobre mim
Love, Reign o'er me, rain on me Amor, reine sobre mim, chova sobre mim
Only love Apenas o amor
Can bring the rain Pode trazer a chuva
That makes you yearn to the sky Que faz você desejar o céu
Only love Apenas o amor
Can bring the rain Pode trazer a chuva
That falls like tears from on high Que cai como lágrimas lá do alto
Love Reign O'er me Amor, reine sobre mim
On the dry and dusty road Na árida e empoeirada estrada
The nights we spend apart alone As noites que passamos sós
I need to get back home to cool cool rain Eu preciso voltar para casa, para a fresca fresca chuva
I can't sleep and I lay and I think Não sou capaz de dormir então me deito e penso
The night is hot and black as ink A noite é quente e negra como tinta
Oh God, I need a drink of cool cool rain Ó Deus, eu preciso de uma dose da fresca fresca chuva
(Vale destacar, apesar da obviedade desta observação para a maioria das pessoas que acessa este blog, que o “amor” mencionado na música extrapola o usual significado “romântico”, vivenciado por um “casal”; trata-se de um significado mais “amplo”, mais “universal”, que pode até contemplar a perspectiva romântica, mas não se limita a ela...)
Adm